Primeiramente gostaria de colocar aqui uma diferença básica entre a escuta passiva, que é aquela em que a pessoa que escuta apenas recebe a informação, e a escuta ativa, onde predomina a recepção, interpretação e a ação. Na escuta passiva é como se o ouvinte colocasse uma música no rádio e fosse realizar uma outra tarefa como cozinhar, dirigir, etc. Desta forma, o que é tocado no aparelho de som apenas entra por um ouvido e sai pelo outro como se diz popularmente. Em contrapartida, aquele que aprecia a música através da escuta ativa move-se com ela, de dentro para fora e de fora para dentro, como os dançarinos ou mesmo aquelas pessoas que batem o pé ao ritmo da música enquanto ela toca. Mover-se com a música é um estado psicológico e mental em que o ouvinte se coloca para que a música entre pelo seu canal auditivo, passe por uma interpretação e retorne uma ação em seu corpo, desde um arrepio ou o pulsar mais forte do coração até uma coreografia mais elaborada fisicamente como os passos de uma dança.
Para fazer a criança te ouvir e estabelecer uma conexão efetiva com ela é necessário que você seja uma música aos ouvidos dela e que se conecte com ela de maneira intensa e integral. Para isso é importante, em primeiro lugar, que você esteja em sua altura, abaixando-se para falar com ela, olhando-a nos olhos e fazendo-a, de maneira natural, olhar nos seus. Este pequeno gesto faz com que a criança estabeleça contato com você e queira estar contigo neste diálogo. Em segundo lugar, é preciso reconhecer que não há um juiz falando, ou seja, que você não se coloque acima dela naquele momento, mesmo que ela tenha feito algo de errado. E caso isto aconteça, mostre com palavras fáceis de entender o caminho que a própria criança tem de fazer para reconhecer o estado de sua ação e reflita sozinha a respeito do que é certo ou errado. Só assim ela chegará na resposta correta de maneira construtiva e entenderá de vez o que está sendo mostrado a ela. Por último, forneça alternativas limitadas a respeito de uma decisão em relação ao que se quer falar. Por exemplo, se você precisa que a criança entenda que precisa guardar os brinquedos, abaixe-se, olhe nos olhos dela e diga: "você já pensou se o papai ou a mamãe deixarem toda a casa bagunçada como o seu quarto? Imagina só se eu deixasse os travesseiros na sala, a vassoura e o rodo no quarto, além de pratos sujos de comida em cima da mesa de jantar... A casa ia ficar feia e quando eu fosse procurar algo no seu lugar eu não ia encontrar, pois estaria jogado por aí em algum canto. Por isso, você pode fazer assim: 1. Ou arruma seus brinquedos antes de comer; 2. Ou arruma depois de comer. O que você prefere?".
Pronto, você ofereceu duas alternativas para a criança escolher e colocou ela como protagonista do fazer, estabelecendo assim uma conexão com sua fala e trazendo pra ela a responsabilidade que lhe cabe, que é de arrumar os brinquedos, mas ela pode decidir entre fazer isso antes de comer ou depois de comer. Ou seja, ela tem de fazer isso e irá fazer, mas no momento dela e quando ela se sentir mais confortável, só que sem fugir da sua responsabilidade. Por isso este modelo de diálogo funciona melhor, pois estabelece um passo-a-passo de como a criança ouve, interpreta e age de acordo com o que precisa ser dito, trazendo um elo entre a escuta meramente passiva e a ação diante do que é dito.
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