Para começo de conversa, a criatividade não tem de ser estimulada na infância. Esta frase, por si só, já é uma polêmica. Mas por que a criatividade não pode ser estimulada? Simples: pois a criatividade já nasce com a criança. Todas as crianças nascem com um instinto de livre associação, que é a base da criatividade. É por meio deste instinto que elas aprendem tudo sobre o mundo, entendendo que ora o azedo é verde e ora amarelo, que o som grave vem dos objetos maiores e o agudo dos menores, mas que o oposto também é válido em alguns casos, etc. Desde que nascem, as crianças vão colecionando os estímulos que vêm do próprio ambiente em que elas vivem e frequentam e estes estímulos que invadem a percepção delas através dos sentidos vão fornecendo um leque de cartas de um baralho com diferentes naipes de categorias como sabores, cores, texturas, sons, etc. Através deste enorme leque de diferentes naipes é que elas começam a tecer suas associações para entender o mundo que as cerca, tanto que é natural que a primeira pintura de uma criança perpasse pelo movimento de pintar com qualquer cor formas como nuvens, sol, grama e por aí vai. Ela nasce livre e espontânea, entendendo que o mundo tem a cor que ela quiser pintar. Até porquê, vamos combinar, existem árvores amarelas e arbustos vermelhos se você bem observar por aí. Esta mania de querer padronizar as cores dos objetos é uma mania não criativa que vem da cabeça do adulto, que já perdeu seu encanto e fascinação de poder escolher a cor que lhe convém para cada coisa ao redor.
É por isso que a criatividade não pode, na verdade, ser morta nas crianças, pois elas nascem e crescem já com o instinto de querer associar tudo o que conhecem, desde que sejam bem nutridas em todos os seus sentidos. É por isso que uma criança que experimentou mais sabores, ouviu mais sonoridades e tocou diferentes texturas vai ter maior dificuldade em rejeitar o diferente, pois seu corpo está acostumado a explorar novos mundos e universos. Ela é uma máquina de experimentos científicos.
E como não deixar que a criatividade morra nas crianças? Um exemplo simples e prático é oferecer brinquedos não estruturados para elas, como blocos de montar, elementos da natureza, caixas de papelão e objetos que não tenham um significado e um fim em si próprios. É importante que a criança atribua significado ao objeto como transformar uma folha de árvore em um avião, os blocos de montar em um castelo ou mesmo um carro e até pegar as caixas de papelão e recortar uma espada para poder brincar. A ideia é que a brincadeira, através da ludicidade inata das crianças, ´possa guiar a criatividade e manter esta chama da associação livre acesa na mente e no corpo dos pequenos. Experimente oferecer qualquer objeto deste tipo para uma criança e veja como ela se comporta. Você vai se espantar em descobrir quantos significados um mesmo objeto pode assumir.
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