As lendas e os mitos do nosso folclore – quaisquer que sejam – sempre têm uma razão para existirem. Seja por meio de causos que o povo conta ou mesmo fazendo alusão a uma figura ilustre da cidade, essas histórias vêm de lugares aonde o inexplicável ganhou vida e não foi uma vida qualquer não: assumiu, muitas vezes, aspecto de magia.
Como pode uma mulher não saber quem é o pai da criança? Como o feijão foi queimar com tão pouco tempo e ainda estando em fogo baixo? Qual o motivo para uma embarcação afundar? Perguntas como estas muitas vezes carecem de respostas objetivas e é neste momento que a imaginação se junta à pitadas de coincidências. Será que a família da grávida teve, no passado, vergonha de assumir o desconhecimento da paternidade? E se um vento tiver passado bem no momento em que o feijão queimou? E se uma cobra d’água tivesse passado a tempo de ser vista antes de tal tragédia? Algumas coincidências podem figurar numa sincronicidade única para determinados eventos, fazendo das pessoas que os presenciaram verdadeiras testemunhas do inacreditável! O Boto, o Saci e até a Maria Caninana podem ser frutos destas coincidências. Imagine só agora se um contador de causos destas tais cidades contasse estas histórias adicionando elementos autorais às narrativas: estas histórias se tornariam inesquecíveis!
Com a Boitatá não foi diferente. Certa vez ouvi de um homem de Visconde de Mauá que ele havia visto um rastro luminoso passando no meio da noite pela encosta da montanha. Ele afirmou para mim, com toda a certeza do mundo, que havia presenciado a passagem da Boitatá por aquelas terras.
Acreditar nos mitos e nas lendas tradicionais do nosso folclore, para muita gente, significa preencher as lacunas do inexplicável ou dar sentido à tudo aquilo que carece de coerência. Pitadas de coincidências ajudam a reforçar este imaginário criado no boca a boca através dos causos que se contam por aí. A magia do coletivo popular em reforçar este imaginário e dar vida a estas narrativas apenas perpetuam o que muitas vezes nunca existiu, atribuindo valor histórico e cultural. Mas aí é que fica a dúvida: será mesmo que não existe?
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